Sua saúde se encaixa na sua agenda?
Quando eu tinha 17 anos prestei o meu primeiro vestibular para Medicina. Apesar de sempre ter sido rígida com os estudos, esse nível de autocobrança e de importância era novo. Foi aí que minha saúde mental entrou na vida adulta e eu conheci a famosa ansiedade.
Na metade desse ano tão definidor foi que senti pela primeira um dos sintomas mais chatinhos e comuns de todos: a queimação no estômago. Fui algumas vezes na emergência por causa dela e recebi um total de zero diagnósticos e orientações. Todos os médicos que me atenderam deviam saber que a principal hipótese (pela minha idade, pelo sintoma e pela ausência de sinais de alarme) seria de doença do refluxo gastroesofágico, mas acho que esqueceram de me avisar.
Depois de algumas semanas convivendo com o incômodo marquei uma consulta com um Gastroenterologista. Foi a primeira vez que fui num médico sem ser pediatra. Minha saúde física que agora entrava na idade adulta. Fui com meu pai e minha mãe, talvez a última vez que tenha ido a um médico acompanhada dos dois.
O médico foi muito simpático, e me explicou que devia ser refluxo, me passou um remédio e me disse que eu precisava fazer uma endoscopia. E foi aí que de corpo e alma eu entrei na idade adulta e disse que não ia fazer, porque não tinha tempo.
Na minha cabeça era totalmente inimaginável perder uma manhã fazendo a endoscopia e possivelmente uma tarde com sono. Disse que não faria e apesar das tentativas de me convencer do contrário, fui respeitada, como todo adulto deve ser respeitado ao tomar as próprias decisões de saúde. PS: Quando posteriormente necessitei novamente e fiz o exame, vi que era muito mais tranquilo do que imaginava antes.
A doença do refluxo, apesar de incomodar, é muito conhecida, e todo mundo tem o seu jeitinho e seu remedinho para ensinar, e muitas vezes ela pode aliviar com medidas comportamentais apropriadas.
Provavelmente é por isso que eu sempre recebo no consultório pessoas com no mínimo meses de sintoma, senão anos. Porque é muito fácil postergar. Porque não estavam com tempo para vir ao médico antes.
A autonomia das pessoas deve ser sempre respeitada na hora das suas decisões de saúde. Mas baseá-las nessa vida apressada que somos obrigados a levar e cultuar não deve ser o caminho mais certo.
Com o avançar da vida adulta, continuo com o estresse e continuo com o refluxo. E continuo não tendo muito tempo livre. Mas agora sei que não me priorizar dentro da minha própria rotina pode ser a mais perigosa dessas doenças.